Com experiência profissional de 33 anos na Santa Casa de Misericórdia, a ginecologista Lúcia Tenório comemora a atual fase vivida pelo hospital. Sob intervenção judicial determinada em abril pela 3ª Vara da Comarca de Mogi Mirim, nos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS), ela, que acumula o cargo de diretora clínica da Santa Casa e vice-prefeita municipal, não esconde a satisfação por acompanhar os frutos colhidos nestes pouco mais de nove meses de intervenção.
“Quem vivenciou o ano anterior à intervenção e hoje vive esse momento, vê que as mudanças são nítidas. Vivemos tempos horríveis, pois não tínhamos nada, fechou a nossa UTI (Unidade de Terapia Intensiva), não tínhamos material para cirurgia, tocava-se da forma que podia. Somos profissionais, temos nosso dever e ética, mas estava precário, muito ruim. Hoje é outra realidade”, contou.
Lúcia Tenório destaca que, logo após a equipe interventora assumir os serviços, lacunas essenciais para o funcionamento do hospital foram preenchidas, com a nomeação de um diretor clínico, diretor técnico e a formação de comissões específicas, como de infecção e revisão de prontuário, colaborando para o andamento das atividades diárias da Santa Casa.
“Vivemos um momento quase de utopia. É um momento diferenciado, muito bom, trabalhamos com alegria”, celebrou.
A diretora clínica não esquece os momentos de agonia vividos na Santa Casa, afetando diretamente os funcionários tanto no aspecto estrutural e de serviços, como o financeiro, devido à falta de recursos. Houve atraso de salários, do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e materiais.
“Não tinham prazer em fazer (o trabalho)”, recorda, ao falar sobre os funcionários. “Hoje, depois da intervenção é outra realidade, todo mundo tem certeza do que vai acontecer, de que vai receber no dia certo”, afirma.
Medicamentos e materiais
A reestruturação do hospital passa pelo investimento na compra de materiais e insumos, além de promover a melhora na infraestrutura de cada setor.
“Antes não tinha material para trabalhar, isso é sério, eu cheguei a buscar material para poder fazer procedimentos pequenos, não tinha escova para escovar as mãos, a gente comprava e trazia. Hoje, quem precisa da nossa Santa Casa será bem atendido, com dignidade”, exaltou.
Atendimento à população
As mudanças internas tiveram impacto no atendimento oferecido ao usuário do sistema SUS. “O paciente vinha e não sabia o que iria acontecer com ele, não sabia se ia ter atendimento, médico, remédio. Hoje ele sai feliz, porque tem certeza que estando aqui (hospital) será bem atendido. As gestantes que vem para a maternidade, por exemplo, tem segurança que vai chegar, ser atendida, ter o bebê, e se precisar da UTI, vai ter uma UTI”, justifica.
“O que mais eu acho que conta é a segurança (de funcionários e pacientes). Longe de ser um sonho, mas estamos no caminho certo”, define.
Intervenção
Lúcia Tenório acredita que, sem a intervenção judicial, não seria possível vivenciar este novo momento.
“Minha opinião médica é que não, em hipótese alguma, fazia tempo que a gente estava brigando por isso. Se acontecer de acabar a intervenção e voltar a ser como era, estarão destruídos sonhos. A Santa Casa não teria condição. A intervenção é algo temporário, mas hoje, se voltasse a ser o que era, eu não visualizo o futuro e nem o presente”, alertou.
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