Em coletiva de imprensa realizada na terça-feira (19), na Santa Casa de Misericórdia de Mogi Mirim, a equipe interventora nos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS), esclareceu a existência de uma bactéria no hospital. A informação era de que o germe poderia causar a morte de pacientes, comprometer os serviços e afetar a saúde pública municipal. Por meio do diretor técnico do hospital, o médico Vitor Augusto de Andrade, do infectologista João Paulo Grecco, da diretora clínica Lúcia Tenório, da secretária de Saúde, Flávia Rossi, e de membros da equipe responsável pela intervenção, a Prefeitura Municipal se posicionou sobre a situação denunciada envolvendo uma super bactéria.
A rotina de trabalho, cirurgias, exames e todo tipo de atendimento realizado no hospital não está comprometido de maneira alguma.
João Paulo Grecco explicou que bactérias estão espalhadas por todos os lugares, dentro ou não de um ambiente hospitalar. “Esse germe o qual foi identificado aqui (hospital) é um germe de solo, chamado acinetobacter, não é um germe criado aqui dentro, ele é encontrado no solo normalmente. Se nós fizéssemos cultura (exame que identifica o surgimento de bactérias) no solo em geral, como nas ruas e casas, iríamos encontrar esse germe, porque a bactéria está em todos os lugares”, explicou.
O infectologista disse ser possível detectar bactérias resistentes a antibióticos, mas que mesmo diante dessa situação, formas de tratamento são encontradas.
“Quando a gente fala em uma bactéria dessa caracterização é porque tratamos de uma bactéria que responde a poucos antibióticos, mas não significa que não há possibilidade de tratamento. Na verdade, conseguimos, guiados pela cultura, saber qual antibiótico combate essa bactéria e nós a tratamos de forma correta, com o medicamento que nós temos acesso dentro do hospital. Então, mundialmente, sabemos que o acinetobacter pode acometer pacientes internados dento dos hospitais, mas isso não é algo restrito a Mogi Mirim, existe em qualquer hospital”, alertou.
Mortes por bactérias são inverdades
Os profissionais destacaram que o aparecimento desta bactéria é fruto da administração realizada no hospital antes da intervenção da Prefeitura, provocada pelo uso indiscriminado e não racional de antibióticos, tornando o germe mais resistente, e somado à ausência dos exames de cultura. Contudo, a possibilidade de mortes ocorrerem dentro do hospital e a bactéria prejudicar todos os profissionais e pacientes que entram e saem da Santa Casa não se sustenta.
“Atualmente nenhum paciente internado na nossa UTI está infectado por essa bactéria. A situação está sob controle, a população não precisa ficar alarmada com isso, pois existem muitas dúvidas e equívocos com relação à transmissão das informações. A população pode ficar tranquila, ninguém vai entrar aqui e pegar bactéria ou morrer. Não é para deixar de fazer cirurgia com medo de operar porque vai entrar no hospital e pegar bactéria, ou fazer algum tipo de exame”, reforçou.
“Foi falado em mortes, isso é uma inverdade. É um germe mais resistente, uma bactéria de possível controle. Isso gera um alarde que depois recai sobre nós, porque o paciente virá nos questionar com um dado que não é real. As pessoas precisam ter mais embasamento e responsabilidade de levantar uma coisa que agrava a situação. Provavelmente vai haver pessoas que deixam de procurar o hospital com medo de algo irreal, e isso é muito sério, isso sim tira vidas.”, completou João Paulo Grecco.
Necessidade de funcionários
Para aprimorar cada vez mais os serviços e melhorar a qualidade do atendimento, a equipe interventora admite existir a necessidade pela contratação de novos funcionários para o hospital. Dentro do processo de intervenção, há uma série de regras entre as partes envolvidas, entre elas a permissão do aumento de profissionais. Para isso existe a necessidade de autorização da Justiça, responsável por determinar a intervenção.
“Antes de pedirmos ao Judiciário, a equipe interventora tentou junto à Irmandade conseguir essas contratações. A Irmandade, mesmo ciente disso, não adotou as providências necessárias para fazer a contratação. Como não fez isso, havia uma dúvida se a decisão judicial possibilitaria a contratação ou não. Já que não foi possível, a última opção foi levar a situação para o Poder Judiciário”, argumentou o procurador municipal, Ramon Alonço.
A solicitação, que transita na 3ª Vara da Comarca de Mogi Mirim, já tem o aval do Ministério Público, e uma decisão é aguardada o quanto antes pela Administração Municipal. A chegada de, ao menos, 20 novos funcionários, colaboraria para os serviços e facilitaria a identificação de novas bactérias.
Vigilância reforça fiscalização no hospital
Com os futuros funcionários e o estoque de insumos, medicamentos e materiais em dia no hospital, o papel da Vigilância em Saúde, que coordena a Vigilância Sanitária, no sentido de fiscalizar e cobrar ações que vão ao encontro da saúde pública, tiveram sequência após a intervenção.
“Atuamos na fiscalização, continuamos da mesma forma, não é porque houve intervenção que a gente não continua fazendo o nosso trabalho. A falta de insumos vem desde 2018, quando estivemos no local e dentro do processo administrativo sanitário detectamos as infrações com a falta de insumos, a cultura para identificar bactérias e a falta de antibiótico”, observou a coordenadora da Vigilância em Saúde, Joalice Penna Rocha Franco.
“Em qualquer clínica ou hospital, temos a função de fiscalização e coibir o que pode levar risco à saúde pública”, completou.